domingo, agosto 09, 2009


Memória

-Vão-lhe desenhando as costas com a ponta da matraca.
Vá fala. Quem te deu esses papéis?


Lá fora já se acenderam há muito os anúncios luminosos; aqueles que aconselham o bálsamo tal para a dor de dentes, os outros dos pensos milagrosos e o leite de colónia para você mulher bonita. “De colónia é o leite que você deve usar, leite de colónia p´ra beleza realçar".


-Com quem te reunias?


Ali a boca formou pilar com os dentes e a raiz das unhas sentiu fincarem-se as unhas.
Na telefonia, uma eterna cantora destrói uma velha canção, em que fala na emancipação das mulheres e na quadratura do círculo.
Na rua saindo de táxis há mulheres envolvidas em casacos de peles.

-Porque escrevias nas paredes?


Novamente a mesma muralha no olhar e o derramamento de um cérebro em catapultas de sono e de sofrimento.
Na 1ª página dos jornais dizia-se: Que a princesa já tinha noivo.
Que lá fora se torturavam os presos políticos.
Que o Benfica não ganhara outro campeonato.
E que o carro, saíra ao senhor fulano de tal.

-Deixem-no, está morto! Tragam outro!

1 comentário:

Ana Camarra disse...

Tens a certeza amigo?
eu ouvi muitas dessas histórias mas a fazer fé nos novos compendios de história nas series de tv, na srª Felipa Vacomdeus (boa viagem pode ir andando)isso nunca existiu.
Vivia-se bem, com ordem e moral (pronto houve aquilo do Ballet Rose mas não deu em nada, familiar...)e a verdade é que só os comunas é que sofriam um bocadinho ás mãos da PIDE, porque eram teimosos, parece que ainda são...
Portanto se não fosse a histórias que ouvi, eu com 7 anos mal feitos no dia 25 de Abril de 1974 acreditaria que isso que escreves é só fruto da tua imaginação....
Mas não o é!

Beijo grande