segunda-feira, julho 19, 2010

Eu e eu, apenas eu!

Ao fugir
Abandonei-me sem medos
Não sei se me descobrirei
alguma vez, pois ando a monte.
Desconheço, realmente, por onde caminho
mas pretendo descobrir se ainda
estou ou não comigo.
Por isso necessito revelar-me de longe

projectar-me na vida para me observar
mas sem contudo saber que me analiso.
Quero penetrar nas margens do meu ser
que me estimulam e projectam
para descobrir que trilhos
e que rios me guiam e orientam.
Preciso de chorar e rir
mas divorciado de bússolas orgânicas
que rejam as  minhas mágoas e alegrias.
Saber-me à minha procura
sem me avisar, a mim próprio
de que talvez nunca mais
me hei-de encontrar, é o que exijo ao meu ego
Paradoxalmente 
quero amar, lutar,
erguer-me, cair, sofrer, viver; todavia sem nunca
parar para me ajudar e me estender a mão.
Deixarei viver este corpo
e observar-me-ei indiferente às chicotadas
que me rasgarem a pele e me torturarem a alma.
Provavelmente voltarei um dia
quando deixarem dúvidas de existir
e os trapézios desfeitos onde sem cuidado me balanço
se tenham desintegrados.
Pois acima de tudo, para além de mim, existo eu.
E talvez também um dia hei-de compreender
porque luto e danço constantemente
à beira dum precipício desafiando  crocodilos
em rios revoltos e  abismos sem fim.
E…nesse dia…
Encontrar-me-ei...
Comigo...

É bem provável…

domingo, julho 04, 2010

O Trilho da Paz!


Os olhos!
enormes janelas ousadas
na busca de um luar adiado
em quarto sempre a crescer

A boca!
espaço sensual 
onde se funde a sede e a água cristalina
sedenta de beijos oxigenados

O coração!
transido por rodeios 
deixou-se alcançar e anulou-se corpo adentro
em busca de artérias ávidas e disponíveis 

O corpo!
em contraluz
tornou-se volúpia disforme
cintilante
violento fugidio
perverso de sensualidade
Amedrontava

No rosto!
continuavam olhos doces
expressivos profundos
a romper órbitas 
de um querer amordaçado
tornado desespero
numa tela de Gauguin

A lua suspirando!
reentrou pelas alçadas desses olhos idolatrados
esgueirou-se no quarto que ora crescia ora minguava
despiu-se de preconceitos
amou foi amada
E chorou.