terça-feira, novembro 11, 2008

Eles andam por aí


Antigamente...
Era a imensidão da planície
Rasgada pela voz agreste do morgado

E nós vergados como mouros de sol a sol de lés a lés
A gretar as mãos a crestar os pés
e nós tombados como espiga a verter
Suor e suco da vida

Antigamente...
Era a secura da voz aprisionada na garganta

E nós estrangulados no fato
de foice em riste, enchada ao alto
A fender a terra a rasgar o pranto
A bater o queixo ao frio cortante

Antigamente...
Era o poço sem fundo do nosso estômago
a estalar como um sobreiro

Se protestávamos o agrário chamava a guarda
E mascarados pela noite
vinham buscar alguns de nós para apodrecermos na prisão

Antigamente...
Brotavam cardos das almas e dos campos
Dos nossos pratos a açorda acompanhada de pão e azeitonas

Mas veio um dia o vento suão
a afagar os campos, a varrer o orvalho das manhãs
A brotar dos peitos, a estoirar nos cantos, a serrar correntes destes punhos feitos côtos

Depois partimos aqui mesmo na nossa terra à conquista do caminho que sabíamos
À força de punho a rasgar a terra que outros deixaram
Ao som da razão, a sentir, a criar, a desbastar as trevas que nos fizeram

Depois fizemos cooperativas onde antes era um inferno
Depois nasceu o pão das pedras e dos cardos
Depois de passo certo criavam-se postos de trabalho
Depois ao som do arado fomos cantando em côro

E houve, até, quem penssasse que os abutres tinham morrido
Mas os abutres não morreram
Aí estão outra vez.

2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo, estou a procura de luciano barata. por ventura vc foi jogador de futebol o clube os belenenses?

Luciano Barata disse...

Não,amigo Jozivaldo, não cheguei a jogar nesse grande clube OS Belenenses.
Um abraço.
lucianobarata